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O enigma cósmico: um objeto que pulsa a cada 44 minutos e desafia a astrofísica

ASKAP J1832−0911 emite sinais de rádio e raios X em sincronia, revelando um fenômeno inédito no universo conhecido

Este conteúdo foi criado, escrito e editado por mim com base em artigos acadêmicos originais, adaptado para o público brasileiro com linguagem acessível. Vídeos, imagens e estrutura são de autoria própria. Boa leitura para você estudante.


Introdução

Imagine um farol cósmico piscando com uma regularidade quase hipnótica no vasto silêncio do universo. Ele emite sinais de rádio fortíssimos, tão potentes que atravessam as distâncias galácticas e alcançam nossos telescópios aqui na Terra. Mas não para por aí. Esse mesmo objeto também dispara pulsos de raios X, uma forma de radiação ainda mais energética, e faz isso com uma precisão de relógio: dois minutos de emissão a cada 44 minutos.

Esse objeto é real. E ele tem um nome: ASKAP J1832−0911. Sua descoberta, anunciada em 2025, pode representar o surgimento de uma nova classe de corpos celestes, e está fazendo os astrônomos repensarem o que sabem sobre o comportamento de estrelas mortas.


Por que isso importa?

Durante décadas, a astronomia nos familiarizou com pulsares e magnetars, estrelas de nêutrons que giram rapidamente, emitindo feixes de radiação como faróis. Essas rotações normalmente duram milissegundos ou segundos. Um objeto que pulsa com um período de mais de 40 minutos é algo sem precedentes.

Além disso, a simultaneidade das emissões de rádio e raios X sugere que esses dois tipos de radiação estão ligados por um mesmo mecanismo físico, o que levanta dúvidas sobre os modelos atuais de emissão estelar. Em outras palavras: estamos diante de algo que não se encaixa nas caixinhas tradicionais da astrofísica.


O que foi descoberto?

ASKAP J1832−0911 é o que os cientistas classificam como um transiente de rádio de longo período (ou LPT, na sigla em inglês). Trata-se de um objeto que emite sinais de rádio intermitentes, separados por longos períodos de silêncio. Mas esse, em particular, chamou atenção porque também emite raios X ,algo nunca visto em LPTs até então.

A intensidade das emissões de rádio é impressionante, chegando a 10–20 janskys, o que o torna excepcionalmente brilhante. E os pulsos de raios X surgem exatamente ao mesmo tempo que os de rádio, em sincronia total.

Esse comportamento é tão incomum que os cientistas foram obrigados a considerar explicações fora do repertório tradicional da astronomia estelar.

Entenda o tema com este vídeo ilustrativo feito por mim

Como foi feita a descoberta?

A detecção do ASKAP J1832−0911 foi resultado de um alinhamento quase cinematográfico de equipamentos. O radiotelescópio ASKAP (Australian Square Kilometre Array Pathfinder), na Austrália, captou os pulsos de rádio. Ao mesmo tempo, por pura coincidência, o Observatório Espacial Chandra, da NASA, estava monitorando a mesma região do céu em busca de fontes de raios X.

Foi essa sobreposição de observações que permitiu aos cientistas confirmar que os sinais vinham do mesmo ponto no espaço e ocorriam exatamente nos mesmos instantes. A combinação de dados de rádio e raios X deu aos pesquisadores um panorama mais completo, e mais misterioso, do que estava acontecendo.


O que pode ser esse objeto?

Duas hipóteses estão sobre a mesa, mas ambas com suas complicações.

A primeira é que se trata de um magnetar antigo, uma estrela de nêutrons com campo magnético extremo, que perdeu sua rotação rápida ao longo do tempo, mas que ainda mantém uma capacidade de emitir radiação intensa. O problema? Magnetars geralmente não apresentam esse tipo de comportamento sincronizado.

A segunda possibilidade é que seja uma anã branca ultra-magnetizada. Anãs brancas são restos de estrelas comuns que chegaram ao fim de sua vida útil. Algumas delas podem ter campos magnéticos muito fortes, mas nenhuma jamais foi observada com esse padrão de emissão combinada.

Ou seja: qualquer explicação exigirá ajustes significativos nos modelos atuais, ou talvez até a criação de um novo modelo.


E agora?

A descoberta de ASKAP J1832−0911 amplia os limites da nossa compreensão sobre os objetos que habitam a galáxia. Ele não apenas desafia os modelos estabelecidos, como também abre caminho para novas perguntas: quantos outros objetos assim existem? Estariam escondidos nos dados de observações anteriores? Que tipo de física poderia explicar esse comportamento?

Além disso, esse caso mostra o valor da colaboração entre diferentes tipos de telescópios e instrumentos. Só conseguimos entender o que está acontecendo porque diferentes observatórios, em diferentes frequências, estavam atentos, e, por acaso, olhando para o mesmo lugar ao mesmo tempo.


Conclusão

O universo adora nos surpreender. E ASKAP J1832−0911 é uma dessas surpresas cósmicas que nos lembram o quanto ainda temos a descobrir. Um objeto que pulsa como um relógio, emitindo simultaneamente rádio e raios X, não apenas instiga a curiosidade científica, mas também reacende o fascínio que temos pelo desconhecido.

É o tipo de descoberta que transforma uma noite de observações em um marco para a ciência, e nos convida a olhar para o céu com novos olhos.


Referência que usei neste post:

Wang, Z., Rea, N., Bao, T., Kaplan, D. L., Lenc, E., et al. (2025). Detection of X-ray emission from a bright long-period radio transient. Nature. Publicado em 28 de maio de 2025.

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